Vivemos em tempos onde a urgência pelos resultados tem levado muitas pessoas e organizações a adotarem práticas questionáveis sob a justificativa de que “o que importa é alcançar o objetivo final”. No entanto, essa visão utilitarista ignora um ponto crucial: os meios utilizados importam tanto quanto os fins. Uma conduta moralmente duvidosa, ainda que traga um benefício imediato, compromete a integridade e a credibilidade da pessoa ou instituição a longo prazo.
O Que é o Princípio da Moralidade?
O princípio da moralidade se refere à obrigação de agir conforme os preceitos éticos e os valores sociais aceitos. Na administração pública, ele impõe que gestores e servidores não apenas cumpram a lei, mas também ajam com probidade e decência, respeitando o interesse coletivo acima dos interesses pessoais ou corporativos.
No setor privado, esse princípio se manifesta nas práticas empresariais, na responsabilidade social e no compromisso com a transparência. Empresas que adotam práticas antiéticas — seja no trato com seus colaboradores, no cumprimento de obrigações fiscais ou na relação com consumidores — podem até prosperar momentaneamente, mas cedo ou tarde enfrentarão as consequências de suas escolhas.
Na vida cotidiana, a moralidade é a base da confiança social. Desde pequenas ações, como respeitar filas e cumprir compromissos, até decisões de maior impacto, como a gestão de recursos públicos ou privados, a conduta ética molda a percepção que as pessoas têm umas das outras e define a credibilidade de indivíduos e instituições.
A Ilusão dos Fins que Justificam os Meios
A ideia de que “os fins justificam os meios” tem sido amplamente discutida na filosofia e na política. Nicolau Maquiavel, em sua obra O Príncipe, é frequentemente (e muitas vezes equivocadamente) associado a essa máxima. Entretanto, o que se observa na prática é que meios imorais ou ilegais corrompem os resultados alcançados, tornando-os insustentáveis.
No terceiro setor, por exemplo, instituições que manipulam dados para captar mais recursos ou que desviam verbas para fins pessoais podem até receber financiamento em um primeiro momento, mas, quando as irregularidades vêm à tona, perdem credibilidade e comprometem o trabalho de organizações sérias. A mesma lógica se aplica a empresas que exploram funcionários, sonegam impostos ou utilizam publicidade enganosa para atrair consumidores.
Na política, vemos constantemente exemplos de lideranças que justificam atos corruptos sob a alegação de que estão promovendo o bem coletivo. O problema é que a corrupção, mesmo que aparente trazer vantagens pontuais, destrói a estrutura social e econômica, gerando desconfiança nas instituições e afastando investimentos.
A Construção de uma Sociedade Ética
Se queremos uma sociedade mais justa e equilibrada, precisamos compreender que os meios importam tanto quanto os fins. Uma cultura de integridade não se constrói apenas com discursos, mas com ações concretas e cotidianas.
No âmbito corporativo, isso significa adotar políticas de compliance, investir em governança e garantir que todas as decisões sejam pautadas por princípios éticos. Para gestores públicos, a moralidade deve ser o norteador de cada ato administrativo, garantindo que o interesse coletivo prevaleça sobre interesses particulares.
E para cada um de nós, no dia a dia, significa agir com coerência, mantendo valores inegociáveis independentemente das circunstâncias. Desde respeitar regras simples de convivência até tomar decisões que impactam outras pessoas, nossa postura reflete o tipo de sociedade que estamos construindo.
Conclusão
O princípio da moralidade não é apenas um conceito jurídico ou filosófico — é uma necessidade para o funcionamento saudável da sociedade. Quando aceitamos que qualquer meio é válido para alcançar um fim, abrimos espaço para a corrupção, para o abuso de poder e para a desconfiança generalizada.
Se queremos mudanças reais, precisamos começar pela forma como conduzimos nossas ações no presente. A integridade não deve ser um diferencial, mas sim o padrão mínimo para qualquer atuação, seja no setor público, privado ou na vida pessoal. Afinal, os fins nunca justificam os meios quando o preço a pagar é a nossa própria moralidade.
Priscila Alves - Embaixadora ANACO BRASIL - Linkidin - https://www.linkedin.com/in/priscilaalvesdf/
