CBF SEM FIM
Na sede da Confederação, o tempo passa, mas os cargos ficam – e as viagens também
Na luxuosa sede da Confederação Brasileira de Futebol, no Rio de Janeiro, o tempo obedece a outras regras. Enquanto o mundo gira, treinadores caem, jogadores se lesionam e torcedores enlouquecem, a CBF permanece suspensa num limbo onde o poder nunca muda de pé — só de terno.
A entidade, que em tese deveria comandar o futebol nacional, se transformou numa espécie de repartição pós-moderna: cheia de vice-presidências, comissões permanentes e cargos honoríficos que não honram coisa alguma, mas acumulam milhas aéreas e diárias internacionais.
Desde a renúncia de José Maria Marin (atualmente com mais processo do que seguidores no Instagram), passando pelas administrações de Del Nero (cuja presença no território dos Estados Unidos é tão improvável quanto a convocação de um lateral brasileiro para marcar), até a atual gestão de Ednaldo Rodrigues — que entrou, saiu, voltou e, se tudo der errado, vira ministro do Esporte —, a CBF virou um capítulo inédito da série Succession, com menos roteiro e mais pelada.
As reuniões eternas do Comitê de Nada
As decisões dentro da CBF são tomadas com a velocidade de um VAR analisando um lateral. Entre conselhos consultivos e comitês técnicos, existe uma liturgia que beira o místico. Fontes internas relatam que, para definir o próximo técnico da seleção, é necessário primeiro consultar: o vice-presidente do Norte-Nordeste, o grupo de WhatsApp dos presidentes de federação, a tabela de signos e o mapa astral da Libertadores.
Quando Fernando Diniz foi nomeado “técnico interino fixo com função transitória de ciclo longo”, os corredores da confederação vibraram: era a invenção de uma nova categoria de cargo. Segundo documentos obtidos pela reportagem, há planos de criar o "interino honorário vitalício", com salário em dólar e livre acesso ao buffet da sede.
A Seleção como desculpa para o turismo executivo
A seleção brasileira ainda joga, é verdade. Mas para muitos dirigentes, ela é apenas um pretexto geográfico. No ciclo entre Copas, as viagens aumentam exponencialmente. Copenhague, Abu Dhabi, Singapura, Belém do Pará. A logística é tratada como questão de Estado: é necessário levar 18 diretores, dois assessores espirituais, um chefe de camarote e o ex-jogador da vez para comentar a experiência em um podcast da casa.
Em 2023, segundo levantamento feito pela reportagem com base em notas fiscais, a CBF gastou mais em hospedagem cinco estrelas do que clubes da Série B em folha salarial. “Não é luxo, é padrão Fifa”, declarou um dos diretores, enquanto esperava o Uber Black para o brunch com um embaixador da Áustria.
E o futebol feminino?
Sim, a seleção feminina existe. Tem até técnico. O nome dela é Arthur Elias, e ela tem o desafio de seguir o legado de Pia Sundhage, que passou quatro anos ensinando sueco para um grupo de jogadoras brasileiras com talento e paciência muito acima da média. A nova gestão promete “olhar com carinho” para a modalidade — expressão que, na linguagem CBF, significa “olhar de longe e com um pouco de tédio”.
Conclusão: a CBF como metáfora nacional
A Confederação Brasileira de Futebol é, antes de tudo, uma entidade poética. Ela resume o Brasil em suas contradições: rica, porém ineficiente; popular, mas distante; apaixonada, porém desorganizada. A CBF não acaba, não muda, não cai — apenas vira tema de matéria, motivo de meme e objeto de CPI.
Enquanto houver um brasileiro gritando “é tetra!” com a camisa de 2002, haverá uma diretoria reunida para decidir se marca a próxima convocação...— desde que não atrapalhe a agenda do cruzeiro técnico pela Europa.
Polêmica
Ainda rende bastidores, jornalistas da ESPN demitidos, após se manifestarem contra as mazelas da CBF. Os jornalistas afstados
Entenda o caso
A ESPN Brasil afastou seis jornalistas após a direção da emissora ter sido surpreendida com um programa temático sobre a CBF. Os comentários foram feitos no programa “Linha de Passe”, pautados por denúncias feitas pela revista “Piauí” sobre a gestão de Ednaldo Rodrigues à frente da entidade máxima do futebol brasileiro. As informações foram publicadas pelo UOL e confirmadas pela CNN.
Os comentaristas Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares foram afastados, além do produtor do programa
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